O cão danado.

Há quem diga que os animais sejam irracionais. De fato, o hipopótamo parece mesmo que não usa seus neurônios, pois, após uma boa briga pelo domínio do harém, o vencedor faz cocô no mesmo lugar em que todos eles bebem água e passam a maior parte do tempo. 

 
 

Com exceção ao hipopótamo, não se vê muito por aí os animais fazendo esse tipo de irracionalidade. 

 
 

Na quadra onde moro, por exemplo, existe um cachorro que, toda vez que eu passava na rua, ele saía do bar onde ele mantém boemiamente residência e ia para a via pública procurar encrenca comigo. 

 
 

Fazia sol ou chuva, a cena se repetia. Já até passei em frente ao estabelecimento disfarçado ou de bicicleta, mas, o danado do cachorro sempre dava um jeito de me descobrir. 

 
 

Parecia que a picuinha era só comigo. Não vi aquele animal procurar briga com mais ninguém. Ele me elegeu o seu inimigo público.  

 
 

Quando não começava latir desde dentro do boteco, o infeliz saía sorrateiramente e se esgueirava na parede do bar para ver se conseguia me surpreender. 

 
 

Eu já passava naquela rua sempre olhando para os lados, atento às investidas do animal. 

 
 

Em várias ocasiões, abaixava-me e pegava uma pedra para apontar para o cão, o que era suficiente para que ele me deixasse relativamente em paz, uma vez que, do lugar onde ele ficava parado, continuava latindo para mim.  

 
 

Até que um dia estava voltando de uma corrida e resolvi parar em frente ao boteco para ver um lance de uma partida de futebol na televisão do bar, disposta na calçada. 

 
 

Esqueci naquele momento que o meu inimigo morava ali.  

 
 

Lance vai, lance vem, quando, de repente, olho para baixo e, imaginem vocês, quem vi bem parado a me olhar com todos os olhos esbugalhados? Era ele mesmo: o cão danado. Pensei que eu não tivesse escapatória. Estava inerte ao alcance daquele bicho malvadão. 

 
 

Para minha surpresa, ele não me atacou ou latiu, apenas ficou olhando para mim, como se fosse o dono da situação. Ele era. O que eu podia fazer? Se correr o bicho pega… Ficamos ali, um olhando nos olhos do outro por alguns segundos. 

 
 

Então, em vez de fazer gestos bruscos ou tomar a iniciativa do ataque, simplesmente passei a mão na cabeça do cachorrinho e ele, faceiramente, abanou o rabinho. 

 
 

Pronto! Ficamos amigos! Assisti ao final da partida de futebol ao lado do cãozinho, que, daquele dia em diante, nunca correu ou latiu atrás de mim. Por minha vez, quando passava naquela rua, fazia questão de chegar perto do bichinho e interagir com ele. 

 
 

Nas relações interpessoais, também é assim. Em muitas ocasiões, temos que desarmar o espírito para entendermos que muitos gestos ásperos, palavras truncadas e certas implicâncias de algumas pessoas nada mais são do que tentativas oblíquas e acenos desajeitados de estabelecer uma amizade ou outro tipo de relacionamento. #Fica a dica! 

Comentários

  1. Crônica excepcional!
    Parabéns pela composição!

    ResponderExcluir
  2. Ou não... Confio mais nos cachorros....kkkkk

    ResponderExcluir
  3. Resumiu tudo nesse trecho "temos que desarmar o espírito".

    ResponderExcluir
  4. Muito massa! É preciso mesmo desarmar o espírito, mas, no que diz respeito aos seres humanos, é importante manter protegia a retaguarda!

    ResponderExcluir
  5. Excelente! Na vida muitas vezes nos deparamos com situações surpreendentes.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Meu velho par de tênis.

Seja independente.

Escolha bem seus amigos de conduta.